POR QUE FILOSOFIA HOJE?
TRECHO ...
Filosofia do grego φιλειν (amizade) e σοφια (sabedoria) é uma técnica que possibilita dizer tudo de forma séria e respeitável. Caracteriza-se por uma atitude hipotética que se expressa através de dois importantes argumentos desconstrucionistas: a recusa intransigente ao que é pré-concebido e tido como verdades aceitas porque todos dizem e pensam (o senso comum) e a posição sempre interrogativa sobre os elementos do cotidiano e da existência: o que é? Por que é? Como é? (atitude crítica).
Essas duas qualidades agregam à Filosofia uma atitude crítica ou um pensamento crítico, compreendido como um distanciamento da visão de mundo costumeira, passando a olhá-lo pelo viés do estranhamento e do inoportuno. Essa vocação intelectual da Filosofia consiste na busca da verdade e na contemplação da realidade, que é o objetivo por excelência do filósofo.
Outro aspecto da Filosofia é o movimento de retorno a si mesmo (dialeticidade), que visa interrogar-se, indagando o “porque” do próprio pensamento. Esse movimento resignificador de indagação de si mesmo é comumente reconhecido na Filosofia como reflexão filosófica radical, que se organiza, segundo Chauí, em três conjuntos de questões: “a) Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? (motivos, causas e Razões), b) O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? (conteúdo e sentido), c) Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? (intenção e finalidade)”.
Contrariamente à atitude do senso comum, que apreende o mundo pela simples emoção e o explica a partir de raciocínios opinativos, o pensamento filosófico indaga sobre a essência, a signi-ficação e a origem de todas as coisas e se permite indagar sobre o ser humano no ato de reflexão, questionando a sua capacidade humana de conhecer e sua finalidade para agir.
Em regra, a cultura em seu cotidiano não toma por referência a racionalidade para refletir sobre os “ditos”, que compõem e atribuem forma a trama de nossas relações sociais, ignorando a lógica da linguagem que, além de facilitar a comprovação dos fatos, desenvolve-se como argumentação, demonstração e verificação na esfera do pensamento vigente. Normalmente, somos levados a pensar e agir através de imagens e contextos simbólicos carregados de afecções emocionais, em que a linguagem como ferramenta de comunicação e de atribuir sentido ao mundo é, obviamente, dissociada do raciocínio lógico e obscurecida enquanto comunicador da realidade.
Mas, há uma frase do filósofo americano Richard Rorty que diz: “A filosofia só ocupa um lugar importante na cultura quando as coisas parecem estar desmoronando — quando as crenças mais queridas estão ameaçadas”.